domingo, 25 de maio de 2008

COCO É DE UMBIGADA!!!



No mês de junho, a tradicional Sambada de Coco, organizada por Beth de Oxum completa 10 anos. O evento é realizado sempre no primeiro sábado de cada mês, no Largo de Guadalupe, em Olinda, e reúne cerca de 2 mil pessoas entre coquistas, mestres griôs, artistas, produtores culturais, educadores, gestores públicos, turistas, agentes jovens e a comunidade do entorno.

No século passado, os mestres João Amâncio e Zé da Hora começaram a realizar, junto com seus partes, uma Sambada de Coco na Aldeia de Paratibe, na cidade de Paulista. Com a morte dos mestres, o coco se cala na Aldeia por quase 40 anos até que no ano de 1998, Beth e seu marido, o percussionista Quinho Caetés, neto dos coquistas, resolvem retomar a Sambada, junto com seus filhos Oxaguiam, Yalodê e Mayra Akarê. A festa passa a ser realizada na Aldeia no último sábado de cada mês, utilizando inclusive a zabumba centenária que pertencia a João Amâncio e Zé da Hora.

Nesta mesma época, Beth de Oxum dá início ao Projeto “No Guadalupe o Coco é de Umbigada”, no bairro de Guadalupe, onde já tinha uma mobilização popular no seu terreiro. Aos poucos o movimento foi tomando as ruas, se transformando na tradicional Sambada de Coco.

No entanto a Sambada é apenas uma das realizações do Ponto de Cultura Coco de Umbigada. Desde 2004, o projeto foi aprovado no programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura e recebeu uma verba de R$ 150 mil para a compra de máquina digital, computadores e equipamentos que serviram para montar a Rádio Amnésia, que ajuda a divulgar o coco na comunidade.

Junto com o material veio também um kit multimídia que está permitindo a gravação de CD diversos artistas e grupos culturais como Mãe Lúcia de Oyá, Seu Zeca do Rolete, Mestre Pombo Roxo, Índio Matinho, a própria Beth de Oxum, o grupo Coco de Umbigadinha, e o Coco de Mazurca Pé Quente, de Caruaru. Os CDs devem ser lançados na comemoração dos 10 anos da Sambada, no mês que vem.

Os jovens da comunidade participam da Oficina de Tecnologia da Informação para prender a usar os equipamentos da rádio e assim poderem se tornar multiplicadores da cultura do coco. Além disso, os jovens recebem orientação dos mestres griôs, que são aquelas pessoas que têm um conhecimento adquirido através da experiência, no caso os coquistas e ialorixás da casa.

“Estes mestres repassam seus conhecimentos para crianças e jovens e a gente procura restabelecer o elo da cultura oral que teve uma ruptura muito forte na cultura popular por contra da perseguição policial que teve em 47, com o Estado Novo”, complementa Dani Bastos, coordenadora do núcleo de música do Ponto Cultural.

O coquista Pombo Roxo tem 57 anos é um dos mestres griôs da casa que tem o coco no sangue e repassa sua experiência para os garotos e garotas que participam do projeto. Para Pombo Roxo, o coco é um ritmo que deve ser tradicionalmente passado de pai para filho, para se perpetuar nas gerações.

“Danço coco desde o ‘bucho’ da minha mãe. Ela era cantora e compositora autônoma e eu sou cantor e compositor graças a ela. Hoje tenho uma filha que dança coco e um filho que é percussionista”, afirma Mestre Pombo Roxo, autor de 328 cocos, que já tem 2 DVD’s gravados e está gravando o quinto CD da sua carreira.

Há uma preocupação muito grande do Ponto Cultural em incluir as crianças na música e despertar a identidade afrodescentente neles. De uma oficina de percussão e ritmo surgiu há 9 anos o grupo Coco de Umbigadinha, composto por 20 crianças, entre 4 e 12 anos de idade, e liderado por Oxaguiam, filho de Beth de Oxum e Quinho Caetés. O grupo faz a abertura da Sambada de Coco.

Antes da apresentação do Coco de Umbigadinha, o Cine Clube Macaíba exibe sessões gratuitas de filmes focados na cultura popular e na matriz africana. O objetivo é mostrar a história, a música, os tambores, os sotaques, a religiosidade e as tradições, para um público presente em média de 500 pessoas. A Sambada inicia às 21h, com a exibição dos filmes do Cine Clube e termina por volta das 5h, após as apresentações dos coquistas.

Recentemente o Ponto de Cultura Coco de Umbigada recebeu um certificado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, pelo Projeto Sambada de Coco que foi pré-selecionado para o Prêmio Rodrigo Melo de Andrade 2007. Com este Prêmio o Iphan busca incentivar a participação social de comunidades brasileiras que desenvolvem trabalhos de salvaguarda do Patrimônio Cultural do Povo Brasileiro e amplia os bens culturais do país.

SERVIÇO:
Sambada de Coco do Guadalupe

Local: Largo Histórico do Guadalupe – Olinda-PE
Informações: 3439.6475


MESTRE POMBO ROXO, COQUISTA DO PONTO CULTURAL

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